A revista científica Nature publicou recentemente o artigo Dating the origin of the Orchidaceae from a fossil orchid with its pollinator (Datando a origem de uma Orquidácea de um fóssil de orquídea e seu polinizador) de Santiago Ramirez, Rodrigo Singer e colaboradores. O artigo revela a descoberta do primeiro fóssil evidente de uma orquídea. Além disso, pela primeira vez foi possível fazer uma observação direta da interação entre planta e seu polinizador, em um fóssil.
O fóssil encontrado, na República Dominicana em 2000, estava perfeitamente preservado no interior de uma pedra de âmbar. Foi datado como pertencente ao Período Mioceno, entre 15 e 20 milhões de anos atrás e consiste em um polinário, a bolsa de pólen, aderido ao dorso de uma abelha extinta, da espécie Proplebeia dominicana, pertencente a uma subfamília existente atualmente.
O polinário encontrado foi suficiente para identificar a planta como uma orquídea e batizá-la como uma espécie até então desconhecida - Meliorchis caribea. Esta planta pertence a um grupo de orquídeas, tecnicamente conhecido como subtribo Goodyerinae, uma subfamília das Orchidoideae, com representantes vivos tanto na Mata Atlântica quanto na Amazônia. Mas, ao contrário dos membros modernos da subtribo, a espécie encontrada no fóssil, provavelmente tinha uma flor com formato tubular, através da qual a abelha precisava rastejar para alcançar o néctar no qual estava interessada, e assim encostava-se ao polinário.
O primeiro e único fóssil do grupo também está ajudando os pesquisadores a estimar a data de origem das orquídeas, que hoje constituem a família mais diversificada de plantas com flores do mundo (são mais de 25 mil espécies). A equipe, coordenada por Santiago Ramírez, do Museu de Zoologia Comparada da Universidade Harvard (EUA), usou inicialmente dados de DNA e da forma das plantas para criar uma árvore genealógica onde a Meliorchis caribea pudesse ser encaixada. Depois, a idade do fóssil e a de outros fósseis de plantas com flores foram usados para “calibrar” essa árvore, ou seja, para tentar atribuir datas estatisticamente confiáveis (embora não 100% seguras) à diversificação das orquídeas indicada pelas mudanças no DNA e na forma das plantas. Os resultados ainda são preliminares, mas a estimativa obtida é de uma origem entre 76 milhões e 84 milhões de anos atrás, no período Cretáceo, quando dinossauros ainda estavam presentes na Terra.
Singer ressalta que as orquidáceas têm alto grau de especialização. A maior parte das orquídeas apresenta seus órgãos reprodutores masculinos e femininos fusionados em uma estrutura chamada coluna. Além disso, têm uma pétala mediana geralmente maior e mais colorida ou destacada, chamada labelo, cuja função principal é atrair e direcionar os polinizadores. “Acreditava-se que plantas com flores e insetos polinizadores, principalmente abelhas, teriam evoluído em paralelo por volta dessa época”. A diversificação de um grupo teria favorecido a diversificação do outro. A evolução dessa interação entre orquídeas e agentes polinizadores, fundamental para a dispersão das plantas, ainda era desconhecida dos biólogos. A descoberta do fóssil de abelha associado ao polinário de uma orquídea permitiu demonstrar a antiguidade dessa relação. “Desde a época de Darwin, os biólogos evolucionários foram fascinados pelas adaptações da polinização por insetos exibidas pelas orquídeas”, diz Santiago Ramírez, pesquisador do Museu de Zoologia Comparada de Harvard e também autor do artigo.
Segundo Ramírez, a descoberta é de grande importância, pois é muito difícil obter o registro fóssil dessas plantas. Elas não florescem freqüentemente e estão concentradas em áreas tropicais, cuja umidade impede o processo de fossilização. Além disso, seu pólen só é disperso por animais – e não pelo vento – e se desintegra em contato com o ácido usado para extraí-lo das rochas.
“Devido à complexidade da estrutura morfológica das orquídeas, acreditava-se que elas tinham se desenvolvido mais recentemente, em uma época contemporânea à do homem. Diante da idade desse fóssil, percebemos que as orquídeas surgiram muito antes, no período dos dinossauros”, conta o biólogo.
Segundo os pesquisadores, a família das orquídeas era razoavelmente jovem na época da extinção dos dinossauros, há 65 milhões de anos. Eles acreditam que a grande diversificação das orquídeas tenha ocorrido logo após o evento que dizimou várias espécies do planeta.
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