domingo, 1 de março de 2009

EXPOSIÇÃO DE CERÂMICA E PLANTAS



Betânia trabalha com as fendas, com os labirintos, com os fragmentos, com as fissuras espontâneas, com a vida das plantas, com experiências de vida e de morte, com variedades de matérias: vidros, espelhos, fibras, ninhos de pássaros colhidos em seu quintal – a fragilidade da morte e a força da vida. Suas obras são em si mesmas a ambiguidade da própria vida, um fazer-se e refazer-se contínuo, a reversibilidade, em que a obra é mundo e o mundo é obra.
Nas fendas, Betânia fotografa incessantemente o que insiste em nascer, apesar de toda estreiteza de promessa quanto à possibilidade de vida. Seu olhar espreita nas fendas aquilo que elas ainda podem oferecer como possibilidade de vida, ou de morte. Fotografa o esforço imenso da vida de vir à luz. Nas fendas fotografadas, sempre há vida: alento da busca.
A artista faz da possibilidade de sobrevivência das plantas um exercício semelhante ao que a própria existência realiza com a vida humana. Impõe a elas situações: a algumas dá água, a outras, impele-as a modificar “hábitos”, quando as priva da água. Qual o limite da resistência? Ou, até que ponto suportamos o sofrimento, a perda, as incertezas? Não seria esta a indagação da artista?
Suas cerâmicas são ninhos em que a fibra natural tece um poema à existência. Esses ninhos frágeis solicitam leveza na aproximação. São frágeis ninhos revestidos de fina cerâmica. Encantam. Descansam sobre a visibilidade ambígua do espelho e repousam em palavras: sonhos. São labirintos infinitos, guardadores de mistérios, que conferem ao nosso olhar uma impotência enorme quando desejamos abarcá-los, como as “pausas” que a vida oferece, e que, por muito pouco, e, subitamente, podem ser ceifadas. Há de se carregar esses ninhos com muito zelo, pois são esconderijos da vida. Há de se dizer que as obras de Betânia inauguram alentos, proximidades, quiasmas – confortos poéticos para nossas almas.


Anita Prado Koneski

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