sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

CRÔNICA: Orquídeas e seus Florianopolitanos

Fazia uns quinze dias desde a última vez que estivemos na Praça Esteves Jr. e vimos inúmeros botões de Cattleya leopoldii. Estavam a uns 15 metros de altura nas palmeiras imperiais e mais baixo na amendoeira. Não contei o número de plantas mais dava gosto para qualquer orquidófilo ou pessoa que admira a natureza olhar pra cima.
Depois de convidar meus amigos da ASSOF para visitar àquela maravilha bem no centro de Florianópolis, a disposição de todos, Dr. Gilmar sugeriu-me descobrir como as orquídeas pararam lá em cima. Seria ótimo resgatar um pouco a história das orquídeas na nossa ilha.
Hoje, domingo, de mão dada com o Márcio, olhando o Pedro, que dispensa comentários e Beto, nosso queridíssimo sobrinho, andando de bicicleta nas ruas desertas do centro; fico pensando como pequenas coisas podem nos fazer tão felizes.

Contei do nosso objetivo que seria chegar à Praça Esteves Jr., Pedro e Beto foram na frente pedalando. Pensava nas orquídeas se estariam abertas.
Depois de passar pela Curia Metropolitana, volta Beto correndo, gritando que Pedro havia se machucado e que uma senhora estava cuidando dele.
Andamos mais rápido. Chegando à pracinha já vejo meu filho sorrindo. Não foi nada sério, nada que um abração e um beijo não resolvessem. Fui agradecer a senhora que olhava pra mim com olhos amorosos e tranqüilos. Disse-me que tentou tranqüilizar os dois e que o dono da Banca de Jornal deu uma garrafinha de água.
Seu Altair Castro não me deixou pagar a água, falou que era por conta dele, que essas coisas aconteciam. Beto e Pedro então compraram gibis. Depois de me apresentar, comecei a falar das Cattleyas. Seu Altair, não sabia se alguém havia plantado, mas me mostrou os passarinhos, com seus ninhos entre as orquídeas. Contou-me que os plátanos, que foram cortados, também estavam cheios de orquídeas. Observamos a amendoeira com outras espécies.
A espécie Cattleya leopoldii, é uma planta forte, com folhas espessas e coriáceas. Suas flores são pequenas e abundantes, normalmente florescendo de dezembro a janeiro. A durabilidade das flores varia de 20 a 30 dias e exalam um perfume adocicado parecido com cravo. A história da Cattleya leopoldii é bem interessante. Centenas de orquídeas conhecidas como Cattleya guttata Lindley foram coletadas na região sul do Brasil e levadas para a Europa por uma firma belga. Em homenagem ao rei Leopoldo, da Bélgica, que era apaixonado por orquídeas, recebeu o nome de Cattleya guttata variedade leopoldii.
Despedi-me de Seu Altair deixando o último boletim da ASSOF e me encaminhei, em seguida, para a floricultura Bella Flor Floripa, quem sabe o dono tivesse mais alguma informação. Seu Nelson Costa me contou a história que estivera procurando. As orquídeas haviam sido plantadas há muito tempo pelo antigo floricultor da Praça Esteves Jr., Jorge Krüeger. Eu estava ansiosa para saber mais, afinal para alguém que não é jornalista, já tinha chegado bem longe. Pedi o telefone de Seu Jorge para poder conversar com alguém tão especial que havia plantado orquídeas belíssimas em praça pública, pra todos admirarmos.
Foi quando soube que Seu Jorge havia sofrido um derrame, que como seqüela estava com dificuldade na fala, mas que daria o celular da sua filha Manuela.
Tudo isso foi muito rápido, não mais que uma hora. Mas a emoção foi intensa. Que pessoas! Ajudaram-me livres de qualquer receio, desinteressadas e generosas. São os florianopolitanos, independente se nasceram aqui ou não, pessoas de bem, que reconhecem que um precisa do outro e que cada momento é uma oportunidade de trocar amor.

Manuela uma Orquídea
Enrolei bastante antes de telefonar para Manuela. Estava meio sem jeito, tenho dificuldade em falar no celular. Mas resolvi enfrentar. Pensei em várias introduções e liguei.
Quem me atendeu, me desarmou. Uma voz doce, de uma moça que parece boníssima, gentil, inteligente, cativante e super atenciosa. Disse-me que teria o maior prazer em ajudar, me passou seu e-mail para nos comunicarmos, pois precisava falar com calma com seu pai sobre o assunto.
Muitas mulheres se parecem com flor. Tive certeza, Manuela é uma orquídea.
Não tardou para me enviar um e-mail carinhoso. Seu pai e outras pessoas amarraram as Cattleyas e outras orquídeas há mais ou menos 25 anos. Plantaram nas árvores da praça com escadas bem altas para que ninguém pudesse pegar. As orquídeas foram compradas ou doadas por amigos e moradores da região.
Seu Jorge Krüeger passou para sua filha, que por incrível que pareça, não eram os jovens que tentavam pegar as plantas e sim as pessoas de mais idade.
Os passarinhos foram os responsáveis por disseminar as mudas e aumentar a quantidade.
Manuela me explicou que seu pai não recordava de mais nada.
Fiquei pensando em Manuela, seu pai, nas pessoas que ajudaram a plantar as orquídeas, nas pessoas que me ajudaram a descobrir a verdade, nas orquídeas floridas majestosas e inalcançáveis, nos passarinhos... tudo em harmonia.



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