domingo, 23 de novembro de 2008

LABIATA - Oitavo disco de Lenine


Apaixonado confesso pelas orquídeas, o cantor e compositor Lenine escolheu uma das mais famosas espécies da planta para batizar seu novo álbum, “Labiata”, o oitavo da carreira do artista e que já está nas lojas em CD e vinil. Produzido por Jr. Tostoi e pelo próprio Lenine, o disco foi finalizado na Inglaterra, nos estúdios de Peter Gabriel, ex-vocalista do Genesis, e marca o retorno do cantor à gravadora Universal (ex-Polygram) após 25 anos. Segundo Lenine, a escolha do nome do novo trabalho se deu por causa da sonoridade da palavra e pelas características que essa planta possui, que remetem à música popular brasileira. “A escolha foi totalmente passional, mais pela sonoridade. Labiata é um nome lindo e tem muito de lábia, mais ainda de labuta”, diz o artista.
“Três coisas me impressionam neste tipo de orquídea. Em primeiro lugar, a beleza da flor, sua exuberância. Depois, a diversidade da ocorrência dela. São mais de 40 mil espécies espalhadas pelo mundo e é possível encontrá-la no meio do deserto da Austrália, como no Tibete. Em terceiro lugar, a resistência. Ela tem essa capacidade de ser uma flor delicada e robusta. Esses três significantes permeiam o que é a música popular brasileira: a beleza, a diversidade e a resistência”, completa.
Ao contrário dos discos anteriores, para esse novo trabalho Lenine entrou no estúdio sem repertório algum e foi escrevendo durante o próprio processo de gravação. “Geralmente, quando você começa a fazer um disco, já tem um pedaço dele pronto. Nesse, por uma conjugação de falta de tempo e também por querer testar esse frescor de compor e gravar, fui fazendo assim, criava a música de noite e no outro dia ia para o estúdio”, explica


De acordo com o compositor, “Labiata” mescla a vivência e a intimidade adquirida com a banda durante a divulgação do álbum anterior – “Lenine Acústico MTV” – com a urgência exercida por ele durante a composição da trilha sonora do espetáculo de dança “Breu”, do Grupo Corpo. Como resultado dessas influências, o artista obteve, segundo ele, um álbum muito pessoal. “Esse é o meu disco mais íntimo porque foi feito com as pessoas mais próximas a mim”, afirma. “Estou nu nessa obra. O disco é todo em primeira pessoa. Ele é direto, não tem subterfúgios.”

Observação: este texto foi realizado por Anderson Dezan, do Último Segundo

domingo, 9 de novembro de 2008

PROPAGAÇÃO SIMBIÓTICA DE ORQUÍDEAS

É um processo de propagação natural das orquídeas em que o embrião das sementes é beneficiado pela ação de um fungo chamado micorriza, que vive em simbiose nas raízes de orquídeas adultas.

Fig.A - corte transversal de raiz de orquídea Gomesa crispa fig. E - hifa vegetativa.

Esse fungo possui ramificações ou filamentos chamados de hifas, que funcionam como uma extensão das raízes das orquídeas, ampliando a área explorada pela raiz e assim os nutrientes que recebe. Com a ajuda das hifas, por exemplo, o fósforo(P), que tem dificuldade em ser capturado pela planta por ser pouco solúvel e ter baixa mobilidade, é tranquilamente absorvido.

As sementes das orquídeas são desprovidas de alimento que mantém o embrião até a germinação completa e o desenvolvimento das raízes necessitando desta simbiose ou nutrição por parte deste fungo. A micorriza transforma a água e os detritos que são depositados nas raízes, das orquídeas adultas, em elementos nutritivos para que as sementes germinem, e produzam folhas, se tornando autotróficas. Em troca, depois que as sementes germinarem produzirão nutrientes que alimentam o fungo.


Essa simbiose, conhecida também como protocooperação (relação mutuamente vantajosa entre dois ou mais organismos vivos de espécies diferentes) é que permite a sobrevivência de ambos.
A cultura simbiótica foi a primeira a ser praticada pelos orquidicultores. As semeaduras consistiam em introduzir as sementes maduras sobre o substrato em que estava a planta mãe, provavelmente contaminada pelo fungo micorriza. É a técnica mais natural, simples e de menor custo. Outra vantagem é que as planta micorrizadas são normalmente mais fortes e mais resistentes a infecções que as cultivadas assimbioticamente. A desvantagem é que nem todas as sementes serão atacadas pelo fungo e pode haver ação de bactérias e outros fungos maléficos às sementes. Fatores que também afetam o sucesso desta simbiose é o excesso de defensivos e de adubos.

Abaixo está a descrição de um cultivo simbiótico descrito por um dos maiores estudiosos de orquidófilos Waldemar Silva.

Material:
1. Vidros ou recipientes plásticos redondos ou quadrados, com cerca de 20cm de largura por 10 ou 12cm de altura.
2. musgo branco ou sphagnum autoclavado ou fervido por 1hora durante 3 dias consecutivos.
3. pontas novas de raiz de orquídeas.
Método:
1. O sphagnum é espremido para sair o excesso de água e colocado nos recipientes ou vidros, enchendo-os um pouco acima do meio dos frascos.
2. Acrescentam-se então os pedaços de raiz de orquídeas entre o musgo ou por cima dele.
3. Devem-se cobrir os recipientes com placa de vidro ou plástico e deixar descansando por 8 a 10 dias em ambiente que haja luz.
4. Após esse período, é aberta a cápsula e espargida as sementes.
5. Cobrem-se novamente os frascos com as sementes.
Observação: é importante colocarmos pontas de raiz de orquídeas que se relacionem com as sementes que pretendemos cultivar. Após 2 a 3 meses teremos algumas sementes germinando.
O fungo micorriza tem grande poder de desenvolvimento, querendo contaminar outros vidros com ele, basta retirar o sphagnum do fundo do vidro onde as sementes estão germinando e misturá-los em ao novo meio.

Referências bibliográficas:
BENZATI, Roberta. Fungos: aliados ou inimigos? Como Cultivar Orquídeas. São Paulo, 2008. V. 34, p. 28-29
WALDEMAR, Silva. Cultivo de Orquídeas no Brasil. 6ª ed. Nobel. São Paulo, 1986. p. 87-89.
WATANABE, Denitiro, MORIMOTO, Márcia Sanae. Orquídeas Manual de Cultivo. 2º vol. AOSP. São Paulo, 2007. p.227-228.
http://www.damianus.bmd.br/Raises%20e%20Micorriza.htm
www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-06832005000200004&script=sci_arttext - 65k –

Sobre Vanillas e Baunilha


Dentro da família das Orquidáceas, existe o gênero Vanilla. São cerca de 50 espécies originárias das regiões do sudeste do México, Guatemala, alguns países da América Central e da América do Sul. No Brasil são listadas 31 espécies nativas.

A Vanilla é uma orquídea trepadeira, seu caule é cilíndrico, e deles saem raízes aéreas que se aderem aos troncos e galhos de árvores. Suas raízes descem até o solo a procura de nutrientes. Suas folhas são aderidas ao caule, ovais e lanceoladas apresentando sulcos no sentido vertical. Suas flores são produzidas a partir das axilas das folhas ou dos vestígios delas, de cor amarelo-canário, com labelo de cor mais intensa. São flores que se encontram ordenadas em cachos com 15 a 20 flores cada, mas em quase todas as espécies de curta duração, normalmente 24 horas, florescendo uma de cada vez. A pétala e sépala são livres e iguais. O labelo é unido na base de uma coluna longa, estreita e encoberta. Em todas as espécies o pólen é macio, farinhento e suas polínias não são divididas. Suas sementes são muito diferentes das outras orquídeas. O fruto é uma vagem alongada medindo de 20 a 25 centímetros de comprimento e é dele que se extrai a baunilha.

Mas não são todas as espécies de Vanilla que tem seu fruto aromático próprio para extração da baunilha. Somente a Vanilla planifolia e a Vanilla trigonocarpa são as melhores produtoras desta essência.

Esta orquídea é uma planta tipicamente de clima tropical quente e úmido, vegetando bem em regiões que apresentam temperatura média superior à 21ºC e com precipitação anual mínima de 1.800 mm. Um período seco de aproximadamente dois meses é fundamental para induzir um bom florescimento. É uma cultura que não se desenvolve em campo aberto, pois as plantas necessitam de um pouco de sombra nos períodos mais quentes e secos, além de proteção contra o vento direto. É uma cultura normalmente consorciada com frutíferas perenes. Entretanto por ser uma planta trepadeira que pode atingir de 20 a 30m, deve-se limitar sua altura para facilitar a polinização de suas flores e a colheita de seu fruto. O solo deve ser fresco, solto, e rico em matéria orgânica.

O florescimento ocorre a partir do segundo ano de plantio, normalmente nos meses de outubro e novembro, mas só a partir do terceiro ano é que a planta produz mais frutos. A polinização praticamente não ocorre por meios naturais, tendo que ser feita manualmente. Por dia, abre-se de 1 a 2 flores, que permanecem abertas por 24 horas, aproveitando-se este período para realizar a polinização manual. A polinização manual é feita, pois a flor possui uma membrana que separa o órgão reprodutor masculino do feminino o que dificulta a polinização natural realizada pelos insetos. Além disso, nos plantios comerciais, recomenda-se à polinização artificial a fim de aumentar a produção. Na Bahia a floração ocorre entre os meses de setembro a outubro. Geralmente, em plantas vigorosas, são polinizadas de 8 a 10 flores em cada inflorescência e 10 a 20 inflorescências em cada planta. O rendimento médio dessa prática varia de 800 a 900 polinizações diárias.
Depois de 30 dias, as favas parecem estar quase murchas, mas isso somente se dá após 6 ou 7 meses, quando chega a sua inteira maturação. Quando maduras, é providenciada a colheita dos frutos. Eles chegam a ter de 20 a 25 centímetros de comprimento e 3 centímetros de espessura.

O processo de cura das favas deve iniciar imediatamente após a colheita das mesmas, sendo este um processo lento, difícil, cheio de segredos, e bastante longo, mas é o que determinará a qualidade da baunilha. Existem vários métodos utilizados hoje em dia, mas o princípio básico é tratar inicialmente as favas com calor e deixá-las posteriormente em processo de transpiração. Desta forma as favas vão perdendo água e inicia-se todo um processo de transformação química dos aromas, intensificando-os ainda mais.

Frutos de Vanilla planifólia Jacks ex Andrews após a cura

É no interior da fava da baunilha que saem os minúsculos grãos que exalam um cheiro perfumado, doce e delicado da baunilha autêntica. A substância química que dá o aroma da baunilha é a vanilina, que está presente nas essências.
A vanilina tem propriedades excitantes. Estudos indicam que a baunilha favorece a digestão, pode ser usada no combate de afecções uterinas nervosas, diarréias, espasmos, esterilidade, flatulência, impotência, melancolia histérica, reumatismo crônico e admite-se ser uma planta afrodisíaca, anti-séptica, digestiva, estimulante, antiespasmódica. Entretanto seu uso é contra-indicado em crianças abaixo de 6 anos, pacientes com alergia respiratória, gastrite, úlceras gastroduodenais, síndrome do intestino irritado, colite ulcerosa, hepatopatias, epilepsia, doença de Parkinson e outras enfermidades neurológicas. O óleo essencial puro pode ser neurotóxico e produzir dermatite de contato. A baunilha é usada largamente na aromatização de sorvetes, chocolates, bebidas e produtos de confeitaria, além de ser também utilizada na perfumaria para a produção de essências para a fabricação de perfumes, sabonetes, talcos e cremes. No México os frutos de baunilha são utilizados também na confecção de artigos de artesanato. Pode ser encontrada em tabletes, em pó, em tintura e em porção.

No Brasil, devido ao custo, as pessoas usam as essências artificiais, mas que nem se aproxima do verdadeiro aroma da baunilha. Em países europeus e nos Estados Unidos utiliza-se 90% a essência natural.

Hoje o México não ocupa mais a posição de maior produtor e poucas famílias ainda vivem exclusivamente do cultivo da baunilha. A ilha de Madagascar é responsável por 90% da produção mundial, que é calculada em cerca de 1200 toneladas por ano. Em 2005 esta ilha exportou três milhões de toneladas dessa essência, quase toda ela destinada à Coca-Cola, que é a empresa americana de refrigerantes maior consumidora mundial do extrato de baunilha. Na Turquia, um sorvete feito com farinha produzida a partir dos tubérculos de orquídeas selvagens secas é tão popular que o seu comércio está ameaçando a própria sobrevivência da planta no futuro, são necessárias mil orquídeas para se produzir um único quilo da farinha.

A produção de baunilha é um processo trabalhoso e de alto custo (a vanilina de extrato natural rende US$ 4.000 por kg). Existe também a vanilina artificial, comumente derivada de liquores de sulfito produzida durante o processamento da polpa de madeira para a fabricação de papel. Porém, o extrato sintético de vanilina fornece apenas a nota sensorial principal do aroma de baunilha. Além disso, esse tipo de produção rende somente US$ 12 por kg para a indústria. Esses números demonstram o interesse industrial em encontrar novas alternativas para a produção de vanilina natural, que poderiam fornecer um preço significativamente maior quando comparado à produção sintética de vanilina. O principal mercado comprador da produção de baunilha do Sul da Bahia é o estado de São Paulo, sendo comercializado a um preço médio de US$ 250 por quilo.

Referências:
www.iac.sp.gov.br/Tecnologias/Baunilha/BAUNILHA.htm
www.wikipedia.org/wiki/Vanilla
www.plantamed.com.br/plantaservas/especies/Vanilla_planifolia
www.todafruta.com.br/todafruta/mostra_conteudo.asp?conteudo

Maripá - Cidade das orquídeas



Para maiores informações http://www.orquidariomaricaense.com.br/ ou contato@orquidariomaricaense.com

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

ILUSTRAÇÃO BOTÂNICA - HOMENAGEM A MARGARETH MEE


Nem sempre conseguimos identificar uma espécie só olhando para a flor, precisamos observar a planta como um todo, verificando os vários detalhes importantes. A fotografia pode alterar os nuances da cor dependendo da luz e do local onde a foto é realizada, por esse motivo a maioria dos cientistas prefere as ilustrações botânicas.
A ilustração botânica é uma arte que retrata com minúcia e fidelidade a obra-prima da natureza. As orquídeas são muito admiradas por ilustradores, pois além de sua beleza incomparável, podem permanecer floridas por bastante tempo, facilitando o trabalho do profissional e sua observação.

O ilustrador pode utilizar grafite, nanquim ou aquarela e através do conhecimento científico, técnica e emoção transmitir de forma precisa à anatomia das plantas. Este documento é realizado no habitat natural da planta, captando detalhes do seu meio ou dentro de uma sala em condições de luminosidade ideais.

Margaret Ursula Mee (1909-1988) é uma artista reconhecida mundialmente por seu trabalho como ilustradora botânica, pois conseguia encontrar com exatidão a cor verdadeira. Criou uma técnica científica e artística que se tornou referência para o estudo da botânica no mundo inteiro. A perfeição e sensibilidade de suas aquarelas valorizam muitas publicações de grande importância no estudo das orquídeas. Foi uma guerreira do século 20. Explorava com coragem a Floresta Amazônica, não se importando com as condições que surgiam pela frente. Sua profunda admiração pela flora brasileira, tornou-a voz ativa contra a destruição do meio ambiente.

Nascida na Inglaterra, estudou arte em Londres na St. Martin’s School of Art, na Center School of Art e na Camberwell School of Art. Em 1950, recebeu o diploma nacional de pintura e design.


Foi a beleza das flores que despertou a paixão da ilustradora pelo Brasil. Em 1952, estava apenas de passagem, mas acabou ficando. Fixou-se em São Paulo e deu aulas de arte durante 5 anos na Escola Britânica em São Paulo. Iniciou em seguida a sua atividade como artista botânica no Instituto de Botânica em São Paulo, passando a se interessar pela mata atlântica. Registrava as várias espécies da flora, com especial interesse pelas bromélias. Em 1956, fez a primeira de suas 15 viagens à Amazônia. Ficou encantada pela floresta e documentou as suas espécies através de inúmeros desenhos. Muitas já foram devidamente estudadas e outras, que receberam o seu nome, ainda continuam desconhecidas. Para executar seu trabalho ela recolhia plantas ou pintava no próprio local onde se encontravam.

Criou quatrocentas pranchas de ilustrações em guache, quarenta sketchbooks e quinze diários. Suas três publicações mais conhecidas são “Flowers of the Brazilian Forests” (1968), “Flowers of the Amazon” (1980) e “In Search of Flowers of the Amazon Forest” (1988).

Em 1989 foi fundada a Fundação Botânica Margaret Mee. Declarada de Utilidade Pública Federal, tem como objetivo dar continuidade ao trabalho da artista, que dedicou sua vida à documentação e à defesa da biodiversidade da flora brasileira e a conservação de seus ecossistemas. É para este fim que a Fundação oferece bolsas de estudo para os estudantes brasileiros de botânica e ilustração botânica com enfoque na flora brasileira, e a concessão anual de uma bolsa de estudo de seis meses no Royal Botanic Gardens Kew, em Londres. A Fundação procura promover também, o aperfeiçoamento de todo conhecimento científico através da publicação de livros, da realização de eventos, exposições e projetos de educação ambiental em prol da conservação e exploração racional dos recursos naturais renováveis. Para maiores informações
http://www.margaretmee.org.br/ .


Margaret Mee morreu em 1988, em um acidente de carro, na Inglaterra. Em sua última viagem, registrou uma espécie rara de cacto, o Selenicereus wittii, com flores brancas noturnas, a flor da lua. Costumava dizer: “Eu sei que minha morte não será o fim do meu trabalho. Onde quer que eu for, tentarei influenciar aqueles que estão destruindo nosso planeta. Assim a Terra terá uma possibilidade de sobreviver”.


Para saber mais:
www.ibot.sp.gov.br/Destaque/margaret.htm
pt.wikipedia.org/wiki/Margaret_Mee
www.usp.br/jorusp/arquivo/2004/jusp708/pag0809.htm
www.margaretmee.org.br/
Revista Como Cultivar Orquídeas. Ed. 13. Retratos da Natureza.p.26-31.

domingo, 2 de novembro de 2008

Orquídeas na Era dos Dinossauros


A revista científica Nature publicou recentemente o artigo Dating the origin of the Orchidaceae from a fossil orchid with its pollinator (Datando a origem de uma Orquidácea de um fóssil de orquídea e seu polinizador) de Santiago Ramirez, Rodrigo Singer e colaboradores. O artigo revela a descoberta do primeiro fóssil evidente de uma orquídea. Além disso, pela primeira vez foi possível fazer uma observação direta da interação entre planta e seu polinizador, em um fóssil.

O fóssil encontrado, na República Dominicana em 2000, estava perfeitamente preservado no interior de uma pedra de âmbar. Foi datado como pertencente ao Período Mioceno, entre 15 e 20 milhões de anos atrás e consiste em um polinário, a bolsa de pólen, aderido ao dorso de uma abelha extinta, da espécie Proplebeia dominicana, pertencente a uma subfamília existente atualmente.

O polinário encontrado foi suficiente para identificar a planta como uma orquídea e batizá-la como uma espécie até então desconhecida - Meliorchis caribea. Esta planta pertence a um grupo de orquídeas, tecnicamente conhecido como subtribo Goodyerinae, uma subfamília das Orchidoideae, com representantes vivos tanto na Mata Atlântica quanto na Amazônia. Mas, ao contrário dos membros modernos da subtribo, a espécie encontrada no fóssil, provavelmente tinha uma flor com formato tubular, através da qual a abelha precisava rastejar para alcançar o néctar no qual estava interessada, e assim encostava-se ao polinário.

O primeiro e único fóssil do grupo também está ajudando os pesquisadores a estimar a data de origem das orquídeas, que hoje constituem a família mais diversificada de plantas com flores do mundo (são mais de 25 mil espécies). A equipe, coordenada por Santiago Ramírez, do Museu de Zoologia Comparada da Universidade Harvard (EUA), usou inicialmente dados de DNA e da forma das plantas para criar uma árvore genealógica onde a Meliorchis caribea pudesse ser encaixada. Depois, a idade do fóssil e a de outros fósseis de plantas com flores foram usados para “calibrar” essa árvore, ou seja, para tentar atribuir datas estatisticamente confiáveis (embora não 100% seguras) à diversificação das orquídeas indicada pelas mudanças no DNA e na forma das plantas. Os resultados ainda são preliminares, mas a estimativa obtida é de uma origem entre 76 milhões e 84 milhões de anos atrás, no período Cretáceo, quando dinossauros ainda estavam presentes na Terra.

Singer ressalta que as orquidáceas têm alto grau de especialização. A maior parte das orquídeas apresenta seus órgãos reprodutores masculinos e femininos fusionados em uma estrutura chamada coluna. Além disso, têm uma pétala mediana geralmente maior e mais colorida ou destacada, chamada labelo, cuja função principal é atrair e direcionar os polinizadores. “Acreditava-se que plantas com flores e insetos polinizadores, principalmente abelhas, teriam evoluído em paralelo por volta dessa época”. A diversificação de um grupo teria favorecido a diversificação do outro. A evolução dessa interação entre orquídeas e agentes polinizadores, fundamental para a dispersão das plantas, ainda era desconhecida dos biólogos. A descoberta do fóssil de abelha associado ao polinário de uma orquídea permitiu demonstrar a antiguidade dessa relação. “Desde a época de Darwin, os biólogos evolucionários foram fascinados pelas adaptações da polinização por insetos exibidas pelas orquídeas”, diz Santiago Ramírez, pesquisador do Museu de Zoologia Comparada de Harvard e também autor do artigo.

Segundo Ramírez, a descoberta é de grande importância, pois é muito difícil obter o registro fóssil dessas plantas. Elas não florescem freqüentemente e estão concentradas em áreas tropicais, cuja umidade impede o processo de fossilização. Além disso, seu pólen só é disperso por animais – e não pelo vento – e se desintegra em contato com o ácido usado para extraí-lo das rochas.

“Devido à complexidade da estrutura morfológica das orquídeas, acreditava-se que elas tinham se desenvolvido mais recentemente, em uma época contemporânea à do homem. Diante da idade desse fóssil, percebemos que as orquídeas surgiram muito antes, no período dos dinossauros”, conta o biólogo.

Segundo os pesquisadores, a família das orquídeas era razoavelmente jovem na época da extinção dos dinossauros, há 65 milhões de anos. Eles acreditam que a grande diversificação das orquídeas tenha ocorrido logo após o evento que dizimou várias espécies do planeta.

Darwin, a orquídea e a mariposa


Charles Darwin (1809-1882), naturalista britânico, geólogo, cientista e autor do livro Origem das Espécies e vários outros trabalhos científicos sobre a evolução a partir da seleção natural e sexual, era apaixonado por orquídeas.
A maioria das pessoas fica fascinada pela exuberante beleza das orquídeas, mas Darwin foi mais longe. Ao observá-las ao redor de sua casa de campo ou estudando espécies exóticas na sua estufa, verificou que suas formas não são desse jeito só por estética e sim engenhos extremamente elaborados para atrair insetos que as polinizem e perpetuem sua espécie.
Certa vez, ele recebeu de um amigo e colaborador, uma orquídea que atraiu exclusivamente sua atenção; a Angraecum sesquipedale, de Madagascar. Uma das pétalas dessa pálida flor branca formava um receptáculo para néctar que media 28 centímetros. Ele previu que, em algum ponto de Madagascar, ilha que nunca visitou, deveria haver uma mariposa com uma probóscide de 28 centímetros, adequada para extrair o néctar da orquídea. Na época foi ridicularizado por vários pesquisadores.
Muito tempo depois da morte de Charles Darwin, dois entomólogos filmaram a mariposa-esfinge Xanthopan morgani praedicta. A mariposa esvoaçava acima da flor, desenrolando sua língua de 28 centímetros e introduzia no canal de néctar da Angraecum sesquipedale. Enquanto bebia o néctar, a mariposa enterrava sua face na flor, e, ao fazê-lo, sua testa roçava os grãos de pólen. Quando terminava, a mariposa enrolava novamente sua língua e voava com a testa carregada de pólen para outra orquídea atrás de outra dose de néctar e assim, fertilizando outra flor.
Parceiras como esta orquídea e a mariposa evoluíram gradualmente para uma intimidade cada vez maior e continuam a evoluir ainda hoje. Os pesquisadores atualmente chamam coevolução este modo de evolução em que uma espécie impulsiona o desenvolvimento de outra espécie. A coevolução é responsável por grande parte da diversidade da vida abrangendo milhões de novas espécies.
A natureza está repleta de parcerias íntimas e benéficas entre flores e polinizadores. A vida consiste, grande parte, numa maravilhosa teia de espécies interativas, e interdependentes adaptadas umas as outras na qual, não podemos nos esquecer, também fazemos parte.