domingo, 9 de novembro de 2008

Sobre Vanillas e Baunilha


Dentro da família das Orquidáceas, existe o gênero Vanilla. São cerca de 50 espécies originárias das regiões do sudeste do México, Guatemala, alguns países da América Central e da América do Sul. No Brasil são listadas 31 espécies nativas.

A Vanilla é uma orquídea trepadeira, seu caule é cilíndrico, e deles saem raízes aéreas que se aderem aos troncos e galhos de árvores. Suas raízes descem até o solo a procura de nutrientes. Suas folhas são aderidas ao caule, ovais e lanceoladas apresentando sulcos no sentido vertical. Suas flores são produzidas a partir das axilas das folhas ou dos vestígios delas, de cor amarelo-canário, com labelo de cor mais intensa. São flores que se encontram ordenadas em cachos com 15 a 20 flores cada, mas em quase todas as espécies de curta duração, normalmente 24 horas, florescendo uma de cada vez. A pétala e sépala são livres e iguais. O labelo é unido na base de uma coluna longa, estreita e encoberta. Em todas as espécies o pólen é macio, farinhento e suas polínias não são divididas. Suas sementes são muito diferentes das outras orquídeas. O fruto é uma vagem alongada medindo de 20 a 25 centímetros de comprimento e é dele que se extrai a baunilha.

Mas não são todas as espécies de Vanilla que tem seu fruto aromático próprio para extração da baunilha. Somente a Vanilla planifolia e a Vanilla trigonocarpa são as melhores produtoras desta essência.

Esta orquídea é uma planta tipicamente de clima tropical quente e úmido, vegetando bem em regiões que apresentam temperatura média superior à 21ºC e com precipitação anual mínima de 1.800 mm. Um período seco de aproximadamente dois meses é fundamental para induzir um bom florescimento. É uma cultura que não se desenvolve em campo aberto, pois as plantas necessitam de um pouco de sombra nos períodos mais quentes e secos, além de proteção contra o vento direto. É uma cultura normalmente consorciada com frutíferas perenes. Entretanto por ser uma planta trepadeira que pode atingir de 20 a 30m, deve-se limitar sua altura para facilitar a polinização de suas flores e a colheita de seu fruto. O solo deve ser fresco, solto, e rico em matéria orgânica.

O florescimento ocorre a partir do segundo ano de plantio, normalmente nos meses de outubro e novembro, mas só a partir do terceiro ano é que a planta produz mais frutos. A polinização praticamente não ocorre por meios naturais, tendo que ser feita manualmente. Por dia, abre-se de 1 a 2 flores, que permanecem abertas por 24 horas, aproveitando-se este período para realizar a polinização manual. A polinização manual é feita, pois a flor possui uma membrana que separa o órgão reprodutor masculino do feminino o que dificulta a polinização natural realizada pelos insetos. Além disso, nos plantios comerciais, recomenda-se à polinização artificial a fim de aumentar a produção. Na Bahia a floração ocorre entre os meses de setembro a outubro. Geralmente, em plantas vigorosas, são polinizadas de 8 a 10 flores em cada inflorescência e 10 a 20 inflorescências em cada planta. O rendimento médio dessa prática varia de 800 a 900 polinizações diárias.
Depois de 30 dias, as favas parecem estar quase murchas, mas isso somente se dá após 6 ou 7 meses, quando chega a sua inteira maturação. Quando maduras, é providenciada a colheita dos frutos. Eles chegam a ter de 20 a 25 centímetros de comprimento e 3 centímetros de espessura.

O processo de cura das favas deve iniciar imediatamente após a colheita das mesmas, sendo este um processo lento, difícil, cheio de segredos, e bastante longo, mas é o que determinará a qualidade da baunilha. Existem vários métodos utilizados hoje em dia, mas o princípio básico é tratar inicialmente as favas com calor e deixá-las posteriormente em processo de transpiração. Desta forma as favas vão perdendo água e inicia-se todo um processo de transformação química dos aromas, intensificando-os ainda mais.

Frutos de Vanilla planifólia Jacks ex Andrews após a cura

É no interior da fava da baunilha que saem os minúsculos grãos que exalam um cheiro perfumado, doce e delicado da baunilha autêntica. A substância química que dá o aroma da baunilha é a vanilina, que está presente nas essências.
A vanilina tem propriedades excitantes. Estudos indicam que a baunilha favorece a digestão, pode ser usada no combate de afecções uterinas nervosas, diarréias, espasmos, esterilidade, flatulência, impotência, melancolia histérica, reumatismo crônico e admite-se ser uma planta afrodisíaca, anti-séptica, digestiva, estimulante, antiespasmódica. Entretanto seu uso é contra-indicado em crianças abaixo de 6 anos, pacientes com alergia respiratória, gastrite, úlceras gastroduodenais, síndrome do intestino irritado, colite ulcerosa, hepatopatias, epilepsia, doença de Parkinson e outras enfermidades neurológicas. O óleo essencial puro pode ser neurotóxico e produzir dermatite de contato. A baunilha é usada largamente na aromatização de sorvetes, chocolates, bebidas e produtos de confeitaria, além de ser também utilizada na perfumaria para a produção de essências para a fabricação de perfumes, sabonetes, talcos e cremes. No México os frutos de baunilha são utilizados também na confecção de artigos de artesanato. Pode ser encontrada em tabletes, em pó, em tintura e em porção.

No Brasil, devido ao custo, as pessoas usam as essências artificiais, mas que nem se aproxima do verdadeiro aroma da baunilha. Em países europeus e nos Estados Unidos utiliza-se 90% a essência natural.

Hoje o México não ocupa mais a posição de maior produtor e poucas famílias ainda vivem exclusivamente do cultivo da baunilha. A ilha de Madagascar é responsável por 90% da produção mundial, que é calculada em cerca de 1200 toneladas por ano. Em 2005 esta ilha exportou três milhões de toneladas dessa essência, quase toda ela destinada à Coca-Cola, que é a empresa americana de refrigerantes maior consumidora mundial do extrato de baunilha. Na Turquia, um sorvete feito com farinha produzida a partir dos tubérculos de orquídeas selvagens secas é tão popular que o seu comércio está ameaçando a própria sobrevivência da planta no futuro, são necessárias mil orquídeas para se produzir um único quilo da farinha.

A produção de baunilha é um processo trabalhoso e de alto custo (a vanilina de extrato natural rende US$ 4.000 por kg). Existe também a vanilina artificial, comumente derivada de liquores de sulfito produzida durante o processamento da polpa de madeira para a fabricação de papel. Porém, o extrato sintético de vanilina fornece apenas a nota sensorial principal do aroma de baunilha. Além disso, esse tipo de produção rende somente US$ 12 por kg para a indústria. Esses números demonstram o interesse industrial em encontrar novas alternativas para a produção de vanilina natural, que poderiam fornecer um preço significativamente maior quando comparado à produção sintética de vanilina. O principal mercado comprador da produção de baunilha do Sul da Bahia é o estado de São Paulo, sendo comercializado a um preço médio de US$ 250 por quilo.

Referências:
www.iac.sp.gov.br/Tecnologias/Baunilha/BAUNILHA.htm
www.wikipedia.org/wiki/Vanilla
www.plantamed.com.br/plantaservas/especies/Vanilla_planifolia
www.todafruta.com.br/todafruta/mostra_conteudo.asp?conteudo

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